Sebosidade de Expressão

18:15:00


Após me chocar com a falta de noção que uma boa parte das pessoas que vejo na internet demonstram (provavelmente passo demasiado tempo no Facebook, mas vamos ignorar essa parte), decidi criar uma minissérie de posts com algumas dicas de comportamento em sociedade. Atenção à palavra, dicas - não pretendo dizer a ninguém o que deve ou não fazer. Não me venham cá os tão-badalados defensores da liberdade de expressão chatear-me o corno.

Não usem a "Liberdade de Expressão" como desculpa para serem uns merdas.


Sim, a liberdade de expressão é um direito. Sim, quer dizer que o governo ou qualquer instituição, empresa ou o carago a quatro não vos podem impedir de dizer o que pensam. Mas não quer dizer que nós tenhamos de levar com a vossa verborreia de bico calado.

A mesma liberdade de expressão que protege o vosso direito de mandar uma piada racista, homofóbica, misógina, ou simplesmente parva, é a mesma liberdade de expressão que me protege quando vos digo "ena, quando eu pensava que a massa fecal era lá em baixo, aqui estás tu para provar que me enganei. Vive-se e aprende-se!"

E desenganem-se: quando eu ou alguém dá de ombros e diz "pá, essas piadas promovem a discriminação de uma minoria porque propagam e validam estereótipos nocivos já intrínsecos na nossa sociedade e, assim, têm o potencial de se traduzir em dificuldades sociais reais na vida das pessoas que pertencem a essas minorias", não somos os novos agentes da PIDE a tentar impedir-vos, grandes lutadores de causa nenhuma, de expressarem a vossa sagrada opinião. Quanto mais, somos vossos amigos: estamos a dar-vos a metafórica pancadinha no ombro, aquele sinal de que só devem prosseguir com o vosso discurso se querem ganhar fama de idiotas.

"Zé- ó- ó Zé, mas piadas de mulher na cozinha não fazem sentido, Zé. Zé, há três mulheres neste grupo e todas elas estão a rolar os olhos tão fundo que conseguem ver os próprios neurónios a gritar por socorro. Zé. Está quieto Zé."
Ah, e para aqueles que gostam de evocar os antepassados nestas situações, e bradar "o 25 de abril não se deu, os nossos antepassados não sofreram, para agora nos quererem proibir de dizer o que pensamos!". Também tenho quase a certeza  que eles não foram para a rua enfrentar a ditadura pelo teu direito a mandar uma piada de "negros são preguiçosos" e "mulheres são burras", mas isso sou só eu.

E para os que se vedam da opinião de que a comédia não deve ter limites, e de que a sátira é isso mesmo, gozar com todos e mais alguns, pois só tenho a dizer: tenho pena.

Tenho pena de que não entendam que a sátira foi criada de forma a questionar organismos de poder de forma a tentar provocar uma mudança no status quo – e não como mecanismo ao serviço dos preconceitos das maiorias para afundar as minorias ainda mais do que já estão.

Tenho pena de que não entendam que sim, podem fazer o vosso humor “negro” à vontade, agora estão é a ser ridículos se pensam que as piadas batidas sobre minorias são inovadoras ou “desafiadoras do politicamente correto” – porque tenho quase a certeza que uma coisa que é repetida por todo o santo portuguesinho na esplanada do café não é propriamente inovadora e assaz corajosa. A diferença entre uma piada de “mulheres não pensam” ou “gays são bichas” contada por um comediante de stand up e o Zé da tasca é só o meio – porque o nível de inteligência, de entendimento sociocultural e o objetivo são os mesmos.

Portanto, basicamente é isto: querem mandar as vossas idiotices para onde todo um público as ouça, estão no vosso direito. Mas não se queixem quando o público vos responde para calarem a boca.

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